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Como é a vida de indígenas que se mudaram para o Distrito Federal para estudar na universidade - créditos Brasil de Fato

Como é a vida de indígenas que se mudaram para o Distrito Federal para estudar na universidade


Censo do IBGE aponta população de 5.813 indígenas no DF e 1,7 milhão em todo Brasil em 2022

Valmir Araújo

Lucas Marubo chegou no Distrito Federal em 2021 para cursar Direito na UnB - Arquivo pessoal

O indígena do povo Marubo do Vale do Javari (AM) Lucas Ycard Marubo chegou no Distrito Federal em dezembro de 2021 para cursar Direito na Universidade de Brasília (UnB). Ele faz parte dos 5.813 indígenas que moram no DF, segundo o Censo 2022, divulgado pelo IBGE.

Ele destaca que os indígenas que chegam até a capital para estudar e trabalhar enfrentam “imensas dificuldades” de adaptação e falta apoio do poder público da capital. 

“Devido a moradia ser muito cara, a alimentação ser muito cara, isso afeta não só a parte financeira, mas também o bem estar psicológico do indígena que sai de um contexto comunitário e passa a viver num contexto urbano”, descreveu o estudante de Direito. Para ele, o governo do DF deveria atuar mais para facilitar a chegada do indígena na capital federal, sobretudo com um melhor serviço de atendimento à saúde mental. 

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Outro ponto destacado por Lucas Marubo, é a dificuldade para os indígenas que vêm fazer faculdade em Brasília, pois as universidades têm programas específicos em parceria com o governo federal, mas existe muita burocracia para conseguir uma bolsa de auxílio permanência, por exemplo.

“Na maioria das vezes, o que garante a permanência são os próprios indígenas que se organizam e se ajudam, até o acesso a bolsa que dura de dois a três meses, porém esta ajuda é limitada”, explicou.

Para Lucas Marubo, que mora no DF há quase dois anos, chamou atenção o número de indígenas na capital ter diminuído neste Censo, pois ele vê a cada ano mais pessoas chegando, sobretudo para ocupar as vagas das cotas específicas. “Este Censo prova que nós [povos indígenas] não iremos desaparecer, pelo contrário, cada vez mais estamos reafirmando nossa presença em espaços estratégicos, participando das decisões que dizem respeito a nosso futuro”, destacou ao falar do aumento de indígenas no Brasil. 

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Permanência ameaçada

Já o indígena Iury da Costa Felipe, que faz parte do povo Magüta-Tikuna, saiu em 2013 da Terra Betânia, no Amazonas, para estudar Antropologia e Ciências Sociais na UnB. Ele também fez mestrado e atualmente cursa doutorado em Antropologia na mesma instituição, mas destaca que seu percurso acadêmico não é uma regra, pois muitos indígenas que chegam à Brasília para estudar não conseguem permanecer e concluir o curso.

“Metade dos estudantes que hoje estão na UnB não tem auxílio, não tem apoio. Então falta uma política específica para garantir a permanência dos estudos indígenas”, afirmou Iury. Segundo ele, esses estudantes são de cerca de 40 povos de distintas regiões e precisavam, por exemplo, de uma casa de estudante indígena.

“Principalmente para aqueles alunos que vão chegando na universidade, porque tem o choque cultural, o custo de vida em Brasília”, afirmou Iury, destacando que a bolsa permanência oferecida pelo Ministério da Educação não é específica para os indígenas, que concorrem ao benefício com outros estudantes, além de ter sido reduzida no governo anterior.

Em nota, a UnB informou que possui diversas políticas e programas institucionais voltados aos estudantes indígenas. De acordo com a universidade, "inicialmente, todos, sem exceção, são contemplados com o auxílio emergencial ou apoio à instalação quando chegam à UnB. Aqueles que são ingressantes pelo Vestibular Indígena têm acesso às três refeições no Restaurante Universitário (café da manhã, almoço e jantar) já a partir do primeiro semestre”, afirmou a UnB. 

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A Universidade destacou também que conta com a Coordenação da Questão Indígena (Coquei) para  promover a permanência desse público. “A Coquei oferece acolhimento, processos de reintegração, atendimento individual, apoio psicopedagógico, reunião semanal com o coletivo de estudantes e a coordenação”, disse a instituição, acrescentando que há dois editais abertos que contemplam discentes indígenas: o Auxílio Temporário para Estudantes Indígenas e Quilombolas e o Auxílio Temporário para Estudantes do Curso de Licenciatura em Educação do Campo.

Governo do DF

Por meio da Secretaria de Justiça e Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF), governo do DF destacou que “desenvolve ações em prol da defesa dos direitos humanos e da implementação de políticas afirmativas voltadas para as populações indígenas”. A pasta citou os Núcleos do Pró-vítima que também oferecem atendimentos também aos indígenas, vítimas de atos de violência, com objetivo de contribuir para o equilíbrio mental e emocional.

A Sejus também destacou o “incentivo ao empreendedorismo com objetivo de impulsionar a inclusão e participação das mulheres indígenas, negras e ciganas no mercado de trabalho”. A pasta ainda citou os programas Acolhe/DF e GDF mais Perto do Cidadão, que podem ser acessados pela população indígena. Por fim, a Sejus destacou a cooperação com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) para atendimento a pessoas refugiadas e migrantes, incluindo grupos indígenas. 

Censo Indígena

De acordo com os dados do Censo 2022, o número de indígenas no Brasil chegou a quase 1,7 milhão, espalhados por 4.832 municípios, nas 27 unidades da federação. Com 5.813 indígenas, o DF ficou na penúltima colocação, à frente apenas de Sergipe, com 4.708 pessoas. Em 2010, a população indígena do DF era de 6.128 pessoas.

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Já a nível de Brasil foi contabilizado em 2010 com 896,9 mil indígenas, ou seja, houve um crescimento de 88,8% maior do que o registrado no recenseamento anterior. O IBGE informou que  houve uma ampliação da cobertura em localidades indígenas e utilização de novas técnicas.  Os movimentos indígenas também reivindicam o trabalho de conscientização que fizeram ao longo deste tempo sobre a importância do Censo.

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Fonte: BdF Distrito Federal

Edição: Márcia Silva


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